A Inteligência Emocional está relacionada com o quanto nós dominamos a nós próprios e as nossas relações. Daniel Goleman, psicólogo conhecido internacionalmente, autor do livro Inteligência Emocional, afirma que essa aptidão pode ser dividida em quatros domínios: 1-) Autoconsciência – saber o que nós sentimos e por quê sentimos, isto é a base de uma boa intuição e maior assertividade na tomada de decisão, além de ser também uma bússola moral; 2-) Autogestão – que significa ter domínio sobre os nossos impulsos, tomar conta das emoções estressantes de uma maneira eficaz para que elas não estraguem o seu dia ou momento e, ao mesmo tempo, poder sintonizar com essas emoções quando você precisar (pois toda emoção tem uma função), assim como, aprender a fazer brotar de dentro emoções positivas, alinhando as nossas ações com o que amamos e reconhecemos como Propósito; 3-) Empatia – conhecer e compreender o que outras pessoas estão sentindo e; 4-) Competências Sociais – somando tudo isso com mais algumas habilidades que possibilitem gerenciar grupos de pessoas, desenvolver liderança, comunicação e resiliência.
Embora o termo Inteligência Emocional seja bastante atual, não foi apenas na sociedade contemporânea que o homem passou a refletir sobre o equilíbrio entre emoção e razão através do autodomínio. Platão, em seu livro “República”, já o fazia, como fica perceptível na expressão do seu conceito de Justiça: “Não apenas força, mas Força harmoniosa, desejos e homens caindo naquela ordem que constitui inteligência e organização… não o direito do mais forte, mas a harmoniosa União do Todo.”
Aristóteles também deu o seu contributo: “Qualquer um pode zangar-se – isso é fácil. Mas zangar-se com a pessoa certa, na justa medida, no momento certo, pela razão certa e da maneira certa – isso não é fácil.”
Durante muito tempo e mesmo nos dias atuais em muitas escolas e consultórios de psicologia a inteligência foi medida pelo QI (que é o coeficiente de inteligência, medido através de testes que avaliam as capacidades lógicas, conhecimentos culturais, capacidades verbais, de memória e de execução de tarefas). No entanto, diversos estudos indicaram que pessoas com um QI madiano conseguem, por vezes, se desenvolver mais na sua vida pessoal e profissional do que pessoas com um QI bastante elevado. Então, nos meios de investigação científica começaram a surgir questionamentos a respeito de quais os fatores que estão em jogo quando, por exemplo, estas pessoas com um QI mais elevado falham onde outras com um QI mais modesto portam-se surpreendentemente bem.
A diferença está no que se convencionou chamar de Inteligência Emocional que inclui o autocontrole, o zelo, a persistência, o altruísmo, bem como a capacidade de motivarmos a nós próprios, entre outros Princípios. Vivemos tempos em que o egoísmo, a violência e a mesquinhez de espírito parecem estar a destruir o bem da nossa vida dentro de uma coletividade. Há cada vez mais provas de que traços de caráter e conduta decorrem das capacidades emocionais subjacentes, no entanto, na maioria das escolas que orientam as crianças e os jovens da nossa sociedade, ainda é pouco o trabalho que tem sido feito para se desenvolver tais capacidades.
No livro Inteligência Emocional, Daniel Goleman relata um episódio que o marcou:
“Era uma tarde de agosto em Nova Iorque, insuportavelmente quente e abafada, um daqueles dias em que o suor e o desconforto tornam as pessoas taciturnas e irritadiças. Eu estava de regresso ao hotel e quando entrei no ônibus, na Madison Avenue, fui surpreendido pelo condutor, um negro de meia-idade com um sorriso entusiasta, que me acolheu com um amigável “Viva, como vai isso?”, saudação que dirigiu a quantos iam entrando enquanto o ônibus ia avançando a passo de caracol por entre o denso tráfego da Baixa. Todos os passageiros ficavam tão surpreendidos como eu e, fechados no sombrio estado de espírito que o dia propiciava, poucos respondiam ao seu cumprimento.
À medida, porém, que o ônibus ia progredindo lentamente pelas ruas, ocorreu em todos nós uma gradual e mágica transformação. O condutor manteve um incessante monólogo em nosso proveito, um animado comentário da cena que ia desfilando lá fora: havia uns saldos ótimos naquela loja, uma exposição estupenda naquele museu, ‘já ouviram falar do filme que estreou no cinema no fundo do quarteirão?’ O encanto daquele homem com a riqueza das possibilidades que a cidade oferecia era contagiante. Quando as pessoas saíam do ônibus, já sacudidas para fora da sombria concha onde se tinham fechado, e o motorista lhes lançava um “Até à vista, tenha um ótimo dia!”, todas lhe respondiam com um sorriso.”
Goleman, refere que traz esta recordação consigo há cerca de vinte anos e recorda que quando apanhou aquele ônibus na Medison Avenue tinha terminado o seu doutoramento em psicologia – mas a psicologia daqueles tempos dava muito pouca atenção aos mecanismos através dos quais uma tal transformação podia acontecer. A ciência psicológica pouco ou nada sabia a respeito da mecânica da emoção. E, no entanto, imaginando o vírus de boa vontade que deve ter-se espalhado pela cidade, transportados pelos passageiros do ônibus, ele compreendeu que aquele motorista era uma espécie de pacificador urbano, de certa forma, um mago dotado do poder de transmutar a saturnina irritabilidade que envolvia os seus semelhantes, de suavizar-lhes e abrir-lhes um pouco o coração.
E, em gênero de contraste, para dar exemplos também a respeito da falta de inteligência emocional tão na nossa sociedade, o autor cita também algumas notícias de jornais:
– Numa escola, um garoto de nove anos perde a cabeça e despeja tinta em cima das carteiras, computadores e impressoras e causa danos num carro que se encontrava no parque de estacionamento. A justificativa: alguns colegas da terceira classe chamaram-lhe “bebé” e ele se revoltou.
– Oito jovens ficaram feridos quando um empurrão inadvertido entre um numeroso grupo de adolescentes reunidos em frente a um clube de rap se transformou numa luta a soco e pontapé, que terminou quando um dos agredidos pegou numa pistola calibre 38 e começou a disparar para o meio da multidão. A notícia destaca o fato de estes tiroteios causados por motivos fúteis terem se tornado cada vez mais comuns nos últimos anos.
– Cinquenta e sete por cento das vítimas de assassinato de menores de 12 anos, diz um relatório, são mortas pelos próprios pais ou padrastos. Em quase todos os casos os pais declaram que estavam apenas a tentar disciplinar a criança. Os espancamentos fatais são provocados por “infrações” como “pôr-se à frente da televisão”, “chorar” ou sujar as “fraudas”.
– Um adolescente alemão foi condenado pela morte de cinco mulheres turcas num incêndio que ateou enquanto as vítimas dormiam. Membro de um grupo neonazista, falou que estava com dificuldades de arranjar emprego, problemas com a bebida e atribuía aos estrangeiros a sua má sorte. Numa voz quase inaudível, afirma: “não consigo parar de arrepender-me daquilo que fiz, e estou infinitamente envergonhado.”
“Todos os dias nos chegam notícias cheias de histórias como estas, sinais de desintegração do civismo e da segurança, de um assalto desenfreado da maldade e da agressão. Mas as notícias limitam-se a refletir, numa escala ampliada, uma crescente sensação de emoções descontroladas na nossa própria vida e na vida das pessoas que nos rodeiam. Ninguém está isolado desta maré de explosão e remorso; que de um modo ou de outro atinge as vidas de todos nós“ (Daniel Goleman).
Se queremos um mundo melhor precisamos trabalhar por isto. E qual é a melhor forma de fazê-lo já que não podemos obrigar ninguém a mudar? Mude você. Quer mudar o mundo? Comece por si próprio. Assim, com o seu exemplo outros podem se inspirar a mudar também.
E como fazer isso? Será fácil mudar profundamente a nós próprios? Não, não é fácil, porque para isso precisamos nos autoconhecer profundamente e ao fazermos isto teremos que nos confrontar com o nosso egoísmo, a nossa vaidade, o nosso orgulho e aprender a dominá-los, a vencê-los. “Você não se torna iluminado imaginando figuras de luz, mas sim ao tornar a escuridão consciente. Porém, esse procedimento é desagradável, portanto, não popular.” (Carl Gustav Jung). No entanto, enfrentar os aspectos desagradáveis de nós próprios é a única forma de poder Transcendê-los.
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